Livro Primeiro - p. 13 -47
Bachelard antes de tentar alcançar ao conhecimento científico, ele vai examinando como as minúcias vão acumulando-se, reiterando que esses conhecimentos quando conservam as típicas grandes linhas descritivas, onde os predicados enaltecem o progresso temático, as qualidades ordenam-se para uma futura e possivelmente, promissora objetividade.
I – Conhecimento e descrição:
Como entender ou delimitar um
conhecimento e sua descrição? “Conhecer é descrever para
re-conhecer”. (BACHELARD, 2004, p.13). O conhecimento é sempre anterior a uma
descrição; este deve ser minucioso e clarividente em sua construção essencial,
como cita Bachelard: “(...) é preciso ser exaustivo, mas é preciso manter a
clareza”. (Ibid, p,13).
Em condições de possibilitar um
conhecimento cientifico, é danoso e perigoso atribuir há uma espécie
“monoteísta” de grau superlativo em categorizar um parâmetro e/ou um paradigma
de conhecimento daquilo que é atribuído como real em stricto senso.“É um erro
conferir ao conhecimento real um único sentido. (...) Priorizar a generalização
em relação à verificação é desconsiderar o caráter hipotético de uma
generalidade que só se justifica por sua comodidade ou clareza”. (Ibid,
p,14).
A filosofia tende para a sistematização
enquanto a ciência para a descrição. A problematização que é encontrada nesta
abordagem é que: “o conhecimento transmitido não é a mesma coisa que
conhecimento como ato de criação” (Ibid, p,14). Neste arcabouço o signo tem
atribuição significativa em detrimento do significado mesmo. “A tarefa de
descrever mostra-se, portanto sempre imperfeita, e mais cedo ou mais tarde será
preciso voltar ao concreto, já que a primeira abstração se afastou do
fenômeno”. (Ibid, p,14).
A eminência descritiva dos dados de uma
ciência será percebida no limiar central de uma teoria especifica para tal; e,
no entanto, as condições de generalidade serão em sentido clarividentes em
contextos reais e lógicos. “Logo, ao confiar no simples impulso da descrição,
estamos fazendo com que o espírito humano aceite o sistema”. (Ibid, p,15).
Aqui há uma auto-síntese da descrição, que
pode ter relevância por uma intuição, tendência, uma impressão porque todas
estas possibilidades de conhecer perpassa por experiências e contatos entre o
eu e o não-eu que em sua aparência não contanto epistemológico que neste caso
especifico pode ser citado o sentimento religioso e o artístico.“Para o
artista, conhecer é descrever para sentir. O lirismo aparece como um sistema
coerente no qual o espírito é especialmente ágil e vivo”. (Ibid, p,16).
Bachelard relata sobre uma espécie de
filosofia propulsiva, onde o pensamente do sujeito esta de acordo consigo mesmo
sendo que de acorda com as categorias a priori do próprio espírito: “O método
de busca transforma-se num método de construção, e o conhecimento se apresenta
como necessariamente acabado. (...) Esse êxito inicial mais parece um sinal de
fraqueza”. (Ibid, p,16).
Em contraponto com o idealismo, o mesmo
não consegue dar prosseguimento diante do continuo e do progressivo: “No
idealismo, o conhecimento será afinal sempre inteiro, mas fechado a qualquer
acréscimo. Só se moverá diante de cataclismos”. (Ibid, p,16).
Para Bachelard o problema do idealismo é a
existência inegável de um erro em sua conjuntura que não pode ser eliminado em
sua totalidade e deve-se contentar com simplórias aproximações. Como progresso
epistemológico o idealismo mostra-se como hipótese de trabalho pouco fecundo e
ilusório: “Ao contrario, como Meyerson comprova, a ciência costuma postular uma
realidade”. (Ibid, p,16).
Temos aí um problema binário entre a
realidade e o conhecimento por que o conhecimento ele não pode ser nunca
esgotado e demanda sempre novas e infinitas pesquisas. “A essência da realidade
reside na resistência ao conhecimento. Vamos pois adotar como postulado da
epistemologia o caráter sempre inacabado do conhecimento”. (Ibid, p,17).
Com isso Bachelard não insiste em repetir
as conclusões anteriores a ele em delimitar o alcance geral da ciência. Ele
relata: “O ato de conhecimento não é um ato pleno. Se é realidade com
facilidade é porque se desenvolve num plano irreal. Essa irrealidade é o preço
de sua facilidade”. (Ibid, p,17).
A ação do espírito é definida em
características pontuais provisórias e artificiais. O espírito impele gestos
tão grandes que impede a complexidade e a finura da potencialidade do mundo e é
neste panorama que o mundo acaba impressionando demasiadamente o espírito
jovem.
A arqueologia ingênua (Ibid, p,18), o
sujeito está como um historiador, ou seja, sem fontes e como reviver os dados
imediatos na consciência diante de um espírito imediato, sendo que não há
lógica que extrapole este espírito. Em se tratando da introspecção é no fundo
uma mera cultura; que é restaurada por uma lembrança diante de sua
personalidade tentando reencontrar sua origem.
Nesta prospecção do imediato construído a
partir de ordem dialética o dado é cultural, social e histórico não é possível
à imediatização do mesmo, pois ele esta sempre em oposição à reflexão e pela
própria reflexão quando ela se torna consciente ( Ibid, p,18); não há habito,
categorias que o prenda; o dado é recíproco e provoca constantes ressonâncias e
renova-se apresentando algo inédito ao espírito. “A fonte é um mero ponto
geográfico e não contém a força viva do rio”. (Ibid, p,18).
A decisão seria a consideração do fluxo do
conhecimento de forma mista entre a reflexão e a distante de origens sensíveis.
“(...) decidimos considerar o conhecimento em seu fluxo (...). O conhecimento em movimento é um modo de criação continua; o antigo explica o
novo e o assimila; e, vice-versa, o novo reforça o antigo e o reorganiza. (Ibid, p,18-19).
Em relação às origens do conhecimento
Bachelard pergunta se o epistemólogo e o físico não podem eximir-se desta
carga, ele diz: “Por princípio, o espírito que conhece tem de ter um passado.
(...) Essa inflexão do espírito, em direção ao passado, para responder à
solicitação de um real inesgotável constitui o elemento dinâmico do
conhecimento. (...) A retificação... o principio fundamental que sustenta e
dirige o conhecimento e o instiga sem cessar a novas conquistas. (...) A fonte
é um mero ponto geográfico e não contém a força viva do rio”. (Ibid, p,19). A
retificação para Bachelard é suprassumo em sua problematização filosófica, ou
seja, é retificar o pensamento diante do real.
II – A retificação dos conceitos:
A conceptualização dos conceitos é
passível de retificação porque os mesmo não conseguem dobrar-se para expressar
uma experiência que já não se sustenta. Conceitos apoiados em imagens como base
fundamental no seleto sensitivo.“Se levássemos a comparação ao limite
metafísico, poderíamos dizer o mero fato de o espírito ser um centro já traz
consigo o caráter abstrato do conhecimento. Temos um único cérebro para pensar
tudo”. (Ibid, p,22).
Lembrando que esse movimento do pensamento
é apenas um nascimento, é um primeiro sinal e para Bachelard é onde a
micropsicologia deveria retraçar as suas novas e árduas etapas sobre a tarefa
do conhecer.
O abstrato elementar por força de
assimilação funcional deve depurar-se. Sendo que esta assimilação nem sempre é
rigorosa e neste sentido mais amplo seria necessário ser feita uma retificação
para poder receber as impressões do real como vigor.“A retificação rejeita o
totalmente diferente e toma o semelhante para dele fazer o idêntico”. (Ibid,
p,22). A assimilação funcional tem aqui o seu principio como conhecimento
utilitário. E na raiz profunda do conceito a uma conservação sendo que ela está
apta a sua conquista: “O conhecimento considerado em sua dinâmica inferior já
implica uma aproximação em via de aperfeiçoamento”. (Ibid, p,23).
Ligando-se a esta organização implica aqui
uma nova ligação que é a intencional. Aqui à vontade esta em total dinâmica
porque ela apresenta a ideia total de despojamento onde a mesma substitui
traços múltiplos associações mal reflexa: “Ao estudar as condições de aplicação
dos conceitos, veremos que eles entram de novo em movimento quando se quer
combiná-los ou simplesmente analisá-los, ou seja, quando se quer servir-se
deles”. (Ibid, p,23).
O conceito só fará sentido pleno na
elaboração de sua própria construção que deve ser explicitado numa proposição.
Sua analise deve distinguir predicado e atos. Sendo que este ato não é uma
posição simplesmente metafísica, mas ela implica em um arcabouço psicológico
que envolve circunstâncias, finalidades e valores que estão de acordo com o
espírito que investiga: “O juízo sintético que define um conceito deve evitar a
tautologia, senão haverá realmente síntese”. (Ibid, p,23).
No posicionamento cientifico; a mecânica
define a “força” como produto da massa pela aceleração. Nisto postula-se uma
linguagem metafísica: “Querer tratar a força como uma entidade que ultrapassa
essa definição é ser tachado de metafísico”. (Ibid, p,24). Nesta observação a
quantificação não dar conta da dinâmica entre o sujeito e o predicado; nesta
lógica só seria possível dissecar um pensamento já inventariado: “A própria
banalidade social é muitas vezes sustentada por um jogo verbal que chama a
atenção pela novidade”. (Ibid, p,24).
O ponto de partida para um conceito se da
por uma intuitiva ou conceptualização conceitual de ideias. A psicologia
moderna já estabeleceu de forma intensa a relação que se passa entre a
anterioridade do juízo que está estritamente relacionada ao conceito. Sendo
esta conceptualização de forma passiva não comporta nenhum juízo nem antes e
nem depois e em relação à conceptualização de forma ativa pede uma intenção,
ela parte de hábitos, ou seja, ela é o ponto de partida para o juízo; é um
raciocínio heterogêneo. “De todo modo, se o conhecimento for considerado em seu
esforço pleno, o conceito sempre deverá ser visto como desdobrado a partir de
um juízo sintético em ação. (Ibid, p,25). “O tipo de proposição que não
demonstra nada é a definição. É evidente que ela expressa uma convenção. Ela só
explica uma palavra, só fixa uma linguagem”. (Ibid, p,26).
Para Bachelard a definição deveria levar
um status de símbolo porque se o mesmo fosse suficiente para os
desenvolvimentos de formas e categorias a ciência deveria impor-se em todas as
formas do espírito. Então o conceito quando é representativo, ou seja, quando é
envolvido em um esquema impreciso logo ao mudar o ambiente conceitual ele muda
o seu aspecto próprio em sua tradução intuitiva.
O espírito geométrico (imagens),
metafísico (abstrato de perfeição), psicológico (aperfeiçoamento) todos esses
espíritos no interior dos seus conceitos vão reviver uma conceptualização
inacabada e totalmente subjetiva. “Nunca o esforço psicológico pode levar-nos
até a lógica pura”. (...) “O tipo de proposição que não demonstra nada é a
definição. É evidente que ela expressa uma convenção. Ela só explica uma palavra,
só fixa uma linguagem”. (Ibid, p,27). Mesmo colocando enfaticamente o conceito
na lógica é passível de verificação na limitação de uma possível compreensão.
“O conceito é, de fato, uma suspensão da análise, um verdadeiro decreto pelo
qual se enumeram as características que são dadas como suficientes para
reconhecer um objeto”. (Ibid, p,27).
Em Bachelard verifica-se a inexatidão do
critério conceitual para reconhecer um objeto; este reconhecimento seria a
pedra de toque para a valoração conceitual para centralizar a acuidade de
percepção: as coisas com seu poder mais ou menos visíveis e em outro poder que
seria a de discriminação sobre. Aqui se vê que a similitude dos objetos não
dependerá dela, mas sim de como o sujeito reage quando a mesma se apresenta:
“Nosso acordo não dependerá tanto da similitude dos objetos, e sim da maneira
uniforme como lhes reagiremos quando se apresentarem”. (Ibid, p,27).
O grande problema da conceptualização que
seria a ação de organizar e/ou formar conceitos será a sua objetivação, pois
decifrar este enigma que é o objeto as exigências para o mesmo seria mínima, então
nesta perspectiva seria o espírito que projetaria esquemas, um método de
construção e retificação; que trazia na ordem de criação pelo viés da
assimilação, ou seja, seria a busca de um fim, ou seja, teleológico. Com isso:
“O pensamento especulativo tende a tornar-se normativo”. (Ibid, p,28).
O conceito em si ou o conceito sem uma
categorização do sentido é inútil em sentido lato, é preciso trabalhá-lo
ininterruptamente em sua construção linguística e contextual: “Apresentar um
conceito isolado não é pensar”. (Ibid, p,28). Se for especulado sobre o que é o
homem, ou seja, o conceito de homem? O que poderia ser pensado a não ser uma
abertura de uma grande expectativa sobre tal: “O pensamento só começa com a
linguagem, é contemporâneo da junção dos conceitos” (Ibid, p,28).
Abre-se aqui precedentes como: um conceito
que traz em seu arcabouço empírico, nem sempre mantém-se sem deformações em
abertura para o novo conhecimento: “O juízo sintético é necessariamente
criador; mas tem de sê-lo progressivamente, por assimilação lenta. É preciso
dissolver pouco a pouco os predicados no sujeito”. (Ibid, p,28). Tanto faz se o
pensamento procurar o diverso ou a unidade que nada implicam em sua ação: “O
ato de conhecer deve ser percebido em estado nascente, pois só aí tem sentido
real. Confirmado, torna-se um mecanismo como qualquer outro”. (Ibid, p,28).
Costuma-se reter o conhecimento não como
um juízo isolado e com isso acaba sendo proibido a sua fragmentação. “A
enumeração cartesiana – que é a triangulação da generalidade – só pode comparar
pontos de referência: não consegue suprir o conhecimento inventivo e ousado que
deve conservar um elemento de liberdade (ação nascente) e que não pode ser
obrigado a sistematizar todos os seus procedimentos” (Ibid, p,29).
Parece que o propósito tanto de Descartes
como de Maxwell era a unificação e sem relação nenhuma com a ciência de sua
época. Colocando desta forma o mundo como algo possível ao sujeito do
conhecimento. Nesta ordem apresentá-se mais uma forma de unificação que de
unidade. O penso descartiano é uma espécie de subjetivação gramatical. A
experiência esta ligado com atributos e o sujeito a um conjunto: ”Pode permitir
um juízo de verificação que retorna do sujeito assim constituído para os
predicados e, por conseguinte, para a experiência”. (Ibid, p,29). Então seria
possível dizer que a uma reação continua dos predicados sobre os sujeitos e do
sujeito sobre os predicados, sendo que esta reação amortece; aí entraria a tese
da descontinuidade conceptual: “A compreensão é uma função muito mal
determinada da extensão”. ( ) “A relação reage sobre a essência”. (Ibid,
p,30).
Quanto à lógica ela não pode servir de
comprovação sobre a realidade psicológica. W. James adverte que em todo estado
de consciência que se conhece um objeto não há repetição deste mesmo estado,
pois, este estado agora é uma novidade. “O estado de consciência em que
reconheço um objeto não é a repetição do estado de consciência em que o
conheci; é um estado de consciência novo”. (Ibid, p,31). Emprega-se o conceito
para uma nova experiência. Então a conceptualização será possível por uma
composição, pois ela sempre aparece inacabada. A análise é elencada por
conceitos.
Foi considerado até aqui a continuidade
funcional do conceito considerando apenas os predicados. Sendo que é raro um
estudo prolongado somente por conceitos, logo é apresentando uma intensidade ou
grandeza. Os predicados são enriquecidos e tornam-se maleáveis. Se for possível
captar a qualidade pode-se até chegar a um conhecimento aproximado em uma:
“(...) superfície das coisas a fraca mobilidade qualitativa”. (Ibid, p,31).
O conhecimento pode ser pensado a partir
de uma não intuição dos filósofos, mas de uma intuição progressiva e
organizada. A base para isso seria um conhecimento com a ordenança de métodos e
movimentos: “A repetição monótona de procedimentos simples é, no mínimo, uma
repetição – isto é, um movimento. (...) um método que, em sua aparente
modéstia, pode substituir a ambiciosa intuição imediata dos grandes filósofos
por uma intuição progressiva organizada, apta a alargar os conceitos”. (Ibid,
p,32).
Dentro das qualidades separadas existe um
gênero que possa falar sobre o conhecimento aproximado da qualidade: “A
intensidade das sensações, como a dos estados psicológicos, é metafórica”.
(Ibid, p,33). Mas, a metáfora traduz uma realidade no que diz respeito na
espontaneidade da intuição.
O caráter da ordem no quesito da
matemática ela pré-figura o numero ordinal sobre o numero cardinal e utilizando
o conceito de medida é definida como a ciência da quantidade. Bergson fala da
desordem como ainda uma ordem, ou seja, mesmo quando o sujeito julga os erros
em cálculo: “O conceito de ordem teria então o estranho privilégio de não ter o
seu contrário”. (Ibid, p,34).
“Se, em alguma parte, a ordem aparece na
qualidade, por que tentar interpor o número? (...) O que introduz a noção de
ordem – considerada em sua acepção mais vaga – na qualidade é que as nuanças de
uma qualidade constituem uma multiplicidade, e o caráter primordial de uma
multiplicidade é ser suscetível de ordenação”. (Ibid, p,34).
Bergson fala da desordem como ainda uma
ordem, ou seja, mesmo quando o sujeito julga os erros em cálculo: “O conceito
de ordem teria então o estranho privilégio de não ter o seu contrário”. (Ibid,
p,34).
Esta ordem seria então a priori da
percepção, porém sem negar a objetividade das classificações qualitativas.
Neste esforço da objetividade a qualidade deve dispor-se a percepção mesmo que
ocorra suspensão de juízo. As percepções não tem acuidade para classificar as
percepções.
As percepções confundem o “observador” no
espaço-tempo, mas esse limite não é fixo, pois, os instrumentos o fazem
regredir e a adaptação das percepções a esses instrumentos o faz regredir ainda
mais. Lembrando que esse trabalho “contínuo” da percepção é fecundo e capta
resultados experimentais.
Há concepção conceitual de “conceito de
ordem e entre” decorrem um do outro: “O conceito de ordem surge, portanto,
desde que seja possível aplicar o conceito de intercalação. A recíproca é
evidente”. (Ibid, p,36). (Intercalado. Adj. Que se conseguiu intercalar
“colocar no meio”; interposto).
A ordem está no meio da qualidade e não
depende de nenhuma metáfora quantitativa: “Só se consegue provar o papel
parasita da grandeza ao se supor uma nítida heterogeneidade entre os casos
comparados”. (Ibid, p,36). A consideração da força e do número como
concomitantes separa-se o gênero estudado e acabado cometendo equívocos
passando do visível para o invisível, do grande para o pequeno... Nenhuma
intercalação permite passar progressivamente de uma para outra.
Bergson não explica a diferença de ordem.
Sem a diferença como poderia haver a comparação?: “De fato, as sensações de
mesma categoria se apresentam a nós no seu todo como uma multiplicidade. Essa
multiplicidade não pode ser informe. Ela tem como característica mínima uma
ordem, pois a ordem não tem contrario”. (Ibid, p,37).
O dado não está pronto e ordenado, é na
multiplicidade que existe o dado. Se há um meio de identidade podem surgir o
segundo, quando o dado se renova e há possibilidades de introduzir um terceiro,
porque onde existe a diferença há a multiplicidade. A multiplicidade
qualitativa: “(...) a percepção é facilmente analisada para isolar sob o complexo
que a caracteriza elementos que, ao desenvolver-se, revelam-se como uma
multiplicidade linear” (Ibid, p,38); em sua dimensão não encontra momentos para
escolher suas direções, pois não há como sustentar que dois pontos distintos
encontrem um terceiro ponto idêntico em sua direção, isto também ocorre com a
visão, ou seja, a tonalidade das cores, a saturação e a clareza parecem aqui um
problema em sua unidade substancial de impressão; é possível o encontro através
de análise, independências múltiplas em sua linearidade, delimitar no interior
do outro em sua multiplicidade existencial. “Uma análise imediata destacará
multiplicidades lineares independentes. A lineação será característica da
existência do mesmo no interior do outro”. (Ibid, p,38).
A base primordial do ponto de vista
psicológico relatados por Bergson na ordem linear está acontecendo ao mesmo
tempo em que uma outra coisa. A qualidade parece como uma dificuldade através
da ideia de grandeza quando se pretende provocar um juízo de aproximação; aí se
tenta explicar até que ponto o conhecimento qualitativo poderá apresentar-se
como uma aproximação. Adentra-se nas questões de comparação, onde duas
qualidades considera uma diferença e no caso da ideia quantitativa duas
quantidades da mesma espécie sustenta a mesma relação: “Dois estados da
qualidade implicam uma diferença, três estados uma intercalação. E nada mais”.
(Ibid, p,39).
Entre estudos sobre geometria projetiva,
apontada por Bertrand Russel e estudos das qualidades traduz em ambas doutrinas
de qualificação. Nestes estudos qualitativos falta clareza por que tenta-se
fugir dos hábitos da linguagem e modelos métricos. “Mas, por que abriríamos mão
de utilizar uma imagem cômoda para traduzir uma realidade oculta? Cremos,
portanto ter o direito de denominar juízo de aproximação o juízo dedutivo
provocado pela quarta experiência qualitativa. Não passa ainda de imagem, de
esquema. Mas veremos que esse esquema dá coerência e clareza à nossa ciência
qualitativa e que ele indica bem, em sua ordem progressiva, os diferentes graus
de nosso conhecimento”. (Ibid, p,40).
Nesta ora a ciência da extensão que seria
uma qualificação mais que um objeto de quantificação estaria na ordem de
benefícios de clareza e precisão suplementar. Se todas as geometrias a
definição de distância e a geometria projetiva se caracteriza pela experiência
e que é realizada com os sólidos. “A nova física faz até objeções mais
fundamentais: ela não aceita de imediato que se verifique o comprimento de um
sólido com a ajuda de um régua dividida em graus. É claro que se pode propor
como postulado que essa verificação é legitima, já que não se pode provar que
ela não o é. Mas isso equivale a introduzir uma arbitrariedade. A congruência é
um verdadeiro postulado”. (Ibid, p,41).
Aqui se identifica o sistema de medidas e
o sistema de coordenadas que serve para demarcá-los, na geometria do
espaço-tempo. A igualdade ou exatidão ao propósito que se destina a ordem a
qual se destina não fica aqui obrigado a aceitar um postulado qualitativo que
sobreponha um intervalo sobre o outro. “Devemos, é evidente, permanecer
senhores de nossos postulados, seja no estudo da qualidade, seja no estudo da
geometria. Em particular, uma ciência qualitativa não está obrigada a aceitar
um postulado de congruência por transporte de um intervalo qualitativo sobre
outro. Esse conhecimento não é atingido pela crítica que mostra a
impossibilidade de justapor dois intervalos qualitativos de origem diferente”.
(Ibid, p,41).
Na qualidade a um elemento esquemático pela
distância. O contraste seria este elemento determinante. Elemento esse
metafísico de difícil definição assim como o seu intervalo. Pois a dualidade só
haverá se houver dois pontos no espaço: “O contraste seria um dado que difere
do dado que encontramos até agora, pois o espírito não pode reconstruí-lo; o
contraste escapa do pensamento formador que se afirma ao reorganizar seus
elementos”. (Ibid, p,42). Aqui é a ordem de relação especificada. O descontinuo
para não cair em erro deve distribuir-se num continuo entre o intervalo e o
contraste. “Mas esse descontinuo, se não quiser cair na confusão e se afastar
das condições do conhecimento discursivo, deve distribuir-se num continuo
(esquema da possibilidade indefinida dos atos); esse continuo é que se manifesta
em geometria pelo intervalos e na qualidade, pelo contraste”. (Ibid,
p,42).
O conhecimento é uma ação, ou seja, é um
ato; o contraste é possível ser entendido apenas por atos que pela sua divisão
pode torná-lo algo que semelhante. Aqui encontra-se um problema de linguagem na
geometria clássica entre intervalo, igualdade e postulado de congruência quando
são transportados a primeira sobre a segunda. Pela expressividade por imagens
em uma comparação de dois cinzas a aquarela resolveria o problema das cores ao
conhecimento do senso comum. Agora entre o transporte de um comprimento sobre
outro comprimento: “O elemento distinguido é muitas vezes fixado de modo pouco
preciso, mas a flutuação nas respostas pode ser tratada pelo calculo de
probabilidades. Esse cálculo faz aparecer uma convergência certa dos
resultados. É o final suficiente de sua objetividade”. (Ibid, p,43). O problema
até pode ser considerado generalista, mas a tese dos intervalos musicais e toda
a aritmética de sua escala fornecem confirmações.
Todo empirismo não leva a prova ao estudo
analítico. A qualidade no que tange a aritmética torna-se mais complexa. Porém
a intuição precisa acaba em dicotomia. Essa operação repetida a aqui leva há
uma operação binária adequada ao estudo das qualidades: “A dicotomia leva a um
método fecundo de aproximação qualitativa”. (Ibid, p,44).
A noção de medida não deve seduzir ao
conhecimento. Se medir é conhecer e se conhecer é descrever a dicotomia é o
melhor método a ser utilizado: “Mas o método dicotômico logo se torna
inaplicável; logo o semelhante se aglomera numa espécie de átomo qualitativo
que nenhum esforço de atenção consegue cindir. Percebe-se que ele ainda é
complexo, mas a análise torna-se tão incerta que já não é tentada”. (Ibid,
p,44).
O conhecimento na abordagem que se refere
à quantidade, será que tem-se o mesmo objeto com precisão segura e exata ou a
inexatidão permeia toda está abordagem complexa do conhecimento?: “No reino da
quantidade, os procedimentos de medida são passiveis da mesma critica. Parece
que, com a medida, se obtém maior exatidão, e os resultados também parecem
menos afetados pela equação pessoal. Mas, em ambos os casos, o obstáculo é de
igual natureza”. (Ibid, p,44-45).
Será difícil provar que o átomo esta em
correspondência psicológica, mas na experiência verifica-se esta possibilidade
ligada aos sentidos, habilidades e conhecimentos. Se por exemplo, o diapasão e
a corda vibratória duas notas musicais que familiar aos ouvidos. Em suas notas
altas e baixas encontram-se ambas no intervalo de indeterminação sendo que o
aparelho de detecção é ouvido humano com suas extensões: “(...) Esse
procedimento oscilante procura um termo” (Ibid, p,45). Aqui pela possibilidade
do termo aberrante restabelece-se a dicotomia: “O átomo qualitativo é dilatado
para possibilitar que se lhe vise melhor o centro”. (Ibid, p,45).
Parece um estranho artifício para
compreender a realidade dos sons em busca de uma segurança de um conhecimento
aproximado. E cair em busca de um conhecimento exato para apreender a realidade
é quase impossível: “(...) já que a coincidência entre pensamento e realidade é
um verdadeiro monstro epistemológico, é indispensável que o espírito se
mobilize para refletir as diversas multiplicidades que qualificam o fenômeno
estudado sem deixar de lado o que o circunda”. (Ibid, p,46).
A saber, é necessário o reconhecimento do
espírito sobre a possibilidade do conhecimento, da apreensão do objeto tanto na
ocasião do quantitativo como do qualitativo, pois, não é seguro somente uma
forma de abstração do conhecimento sobre o real; este tipo de juízo é coerente como
a proposta de uma filosofia da aproximação. Compreender os conceitos no grupo
intuitivo, perceptivo é tarefa de buscar o heterogêneo no homogêneo, um está
ligando e entrelaçado ao outro:”(...) por mais que esse elemento isolado esteja
marcado por uma oportunidade excepcional. Esse elemento privilegiado não pode
esposar a complexidade do real ou do irracional. No máximo, anula a lei
fundamental do pensamento em movimento que nos obriga incessantemente a buscar
o heterogêneo no interior do homogêneo para tentar em seguida, num movimento
contrario, uma assimilação do semelhante e do idêntico”. (Ibid, p,46).
A partir da descontinuidade ou de
experiências separadas, o pensamento ordenado toma um sentido de valor diante
do conjunto de suas partes: “A ordem que se introduziu nos sucessivos graus de
um conhecimento é um elemento positivo que merece um exame particular. Logo, é
possível estudar a aproximação em si e para si mesma”. (Ibid, p,47). Esse
estudo da filosofia da aproximação ela vai agir principalmente nas áreas na
qual ela é mestra: na física e na matemática.
“É no estudo dos fenômenos físicos que
esses métodos serão apurados, aperfeiçoados. (...) Essa multiplicidade
inesgotável talvez justifique nosso plano que, no fundo, vai do simples para o
complexo, de um conceito fundamental, a ordem, para conceitos derivados, numero
e grandeza, do finito para o infinito”. (Ibid, p,47).
A aproximação do conhecimento vai realizar
inúmeros termos racionais para tentar ter alcance sobre o irracional que a
matemática, por outro viés, constituiu como seres.
Referência:
Bachelard.
G. Ensaio sobre o conhecimento aproximado, Rio de Janeiro Ed. Contraponto, 2014.