quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Inferências e Proposições

A máxima: “Eu ajo com o outro, da mesma maneira que desejo que ajam comigo”. Se esta proposição for levada a cabo de forma não inferencial ou inferencial, como ela pode ser mensurada?

S P;
P S;
Logo, S P e P S.

No ato de uma ação sensorial onde: S P e P S, qual a proposição que justifica esta assertiva? Se sempre que S deliberar uma ação no intuito de um retorno com o mesmo objetivo de P será que esta inferência encontra-se em harmonia com a proposição? S deseja agir de forma causal onde o efeito de sua deliberação seja sempre seguro; P espera de forma recíproca a mesma assertiva. Como ter segurança de que S P e P S que a mesma inferência será justificada pela recíproca?

Uma proposição Ética não pode ser uma prerrogativa justificada onde implicações sejam seguras. O interlocutor e sua deliberação não tem uma epistemologia para estas inferências diante de preposições, pois a linguagem utilizada tem em seu pressuposto a priori uma implicação moral. Este arcabouço não faz frente há uma objetividade, mas sim há uma subjetividade mediante sua representação de mundo e de segurança nas ações deliberadas como responsável pelo corpo teórico e moral que depende tão somente dele.

Então, pensar que uma máxima pode e deve garantir esta segurança epistêmica é de um romantismo pitoresco, assim como, deliberar com a esperança do mesmo. Quando se envereda neste viés onde: “Eu delibero, e espero a mesma deliberação perante as ações mutuas”; é caracterizar e caricaturar a ação como um objeto que pode ser demarcado e estabilizado num coro autêntico de reciprocidade.


Então S P e P S, já está implicado em proposições e inferências, assim como, é assertivamente o principio de identidade e do terceiro excluído aristotélico; onde A é A e não pode não ser A; para qualquer proposição, ou esta proposição é verdadeira, ou sua negação é verdadeira. Se S delibera uma proposição inferencial ou não inferencial que implique o desejo em P e sendo que se P tem como recíproca verdadeira a mesma implicação, está assertiva é falsa e tornaria a mesma em um ad infinitum e ad abusurdum.


“Eu ajo com o outro, da mesma maneira que desejo que ajam comigo”. Está máxima deve ser tomada como princípio universal como aporte de um norte para se pensar em boas relações, mas não como garantidor de uma relação causal, ou seja, se um sujeito agir Y em relação a Z irá ter implicação Y recíproco de Z. 

A proposição inferencial não pode garantir nada, pois, o interlocutor é o sujeito da ação deliberada; e se o mesmo esperar pela reação recíproca como garantia de sua deliberação o que poderá ocorrer é tão somente uma neurose e um complexo assertivo. A Ética trata dos valores morais, enquanto a epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento. Logo, podemos demarcar que no campo da Ética a epistemologia não pode dar conta de assertivas proposicionais que venha a ser garantidora de uma ação deliberada por subjetividades.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

A subversão do conceito de Individualismo


No Jardim do Éden “Deus” cria um casal “Adão e Eva”, logo em seguida, fruto desta relação nasceu “Caim e Abel”. Caim dedica-se às coisas do campo enquanto Abel cuida das ovelhas. Ambos querem apresentar algo ao “Criador” - simbolismo de agradecimento por suas vidas. Caim leva o fruto da terra e Abel traz as partes gordas das primeiras crias. Como o “Criador” não se impressiona com a beleza das coisas que as mãos lhe apresentam, mas tem a prerrogativa de enxergar as motivações por detrás delas, decidiu aceitar com alegria a oferta de Abel e rejeitar a de Caim. Abel em sua individualidade pensa em agarrar a parte que lhe é própria, enquanto Caim perde neste momento sua individualidade, pensa somente em si mesmo, tendo como pressuposto seu egoísmo exacerbado.

Juste un moment. Abel era individualista? E Caim era egoísta?

Um sujeito que vive uma vida marota e liquida, ou seja, que lhe falta às certezas, que não há mais uma garantia sobre nada – logo é chamado de individualista pela característica de não ser propriedade de outrem, ou seja, pertencente-autônomo; mas então o que será que é tomado ou considerado como um ser individualista? A palavra deriva do Latim - “individuus”, tendo duas significações: 1. Não pode separar; 2. Inseparável. Ou seja, tudo aquilo que está contido no todo é uno tornando-se individual. Faz-se aqui um contraponto entre a etimologia “individuus” com o "in - dividuus", ou seja, "dividuus" - vem de "dividere" = separar; "in" - significa o contrário: Não podendo ser separado.

A palavra ganha o significado de "individualismo" em sua definição contemporânea de forma subversiva, ou seja, como se o sujeito estivesse separado de tudo e de todos sendo assim conceitualizado como egoísmo. As “ideias” filosofias desenvolvidas pelo “Iluminismo” - entre outros o conceito que nenhum sujeito é “Propriedade de Alguém”; nem deus, nem o rei, nem mãe/pai - sendo o sujeito mesmo o criador de seus próprios valores através da emancipação - isso por si só já é uma revolução. Pertencer ao todo, está ligado ao outro não quer dizer que o outro seja meu proprietário, a individualidade do sujeito não despreza o pertencimento a outrem - o sujeito pertence a humanidade, a natureza, logo ele é indivisível. Porém ser indivisível quer dizer ser diferente do todo, o todo é uma constelação da diferenciação. Todo homem é individualista, o sujeito é homem, logo, o homem é individualista. 

Como o conceito foi subvertido de “individualismo” para “egoísmo” a qualificação do sujeito emancipado torna-se um paradoxo e uma aporia retórica que enseja numa filologia periférica. Egoísmo tem sua raiz à palavra Latina - “quaerere”: Ego significa “eu” mais o sufixo “ismo”, doutrina, sistema, teoria, tendência, corrente - é o amor exagerado aos próprios interesses a despeito dos de outrem. Na contemporaneidade o individualismo se não for qualificado com a definição de egoísmo é visto como uma espécie de estranhamento, pelo fato que ele é definido como uma categorização de adjetivo perdendo assim seu caractere próprio e legítimo dentro do contexto histórico e filológico. A essência do termo se esvai - assim como a aura se dissipa da estética autêntica.