quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

A subversão do conceito de Individualismo


No Jardim do Éden “Deus” cria um casal “Adão e Eva”, logo em seguida, fruto desta relação nasceu “Caim e Abel”. Caim dedica-se às coisas do campo enquanto Abel cuida das ovelhas. Ambos querem apresentar algo ao “Criador” - simbolismo de agradecimento por suas vidas. Caim leva o fruto da terra e Abel traz as partes gordas das primeiras crias. Como o “Criador” não se impressiona com a beleza das coisas que as mãos lhe apresentam, mas tem a prerrogativa de enxergar as motivações por detrás delas, decidiu aceitar com alegria a oferta de Abel e rejeitar a de Caim. Abel em sua individualidade pensa em agarrar a parte que lhe é própria, enquanto Caim perde neste momento sua individualidade, pensa somente em si mesmo, tendo como pressuposto seu egoísmo exacerbado.

Juste un moment. Abel era individualista? E Caim era egoísta?

Um sujeito que vive uma vida marota e liquida, ou seja, que lhe falta às certezas, que não há mais uma garantia sobre nada – logo é chamado de individualista pela característica de não ser propriedade de outrem, ou seja, pertencente-autônomo; mas então o que será que é tomado ou considerado como um ser individualista? A palavra deriva do Latim - “individuus”, tendo duas significações: 1. Não pode separar; 2. Inseparável. Ou seja, tudo aquilo que está contido no todo é uno tornando-se individual. Faz-se aqui um contraponto entre a etimologia “individuus” com o "in - dividuus", ou seja, "dividuus" - vem de "dividere" = separar; "in" - significa o contrário: Não podendo ser separado.

A palavra ganha o significado de "individualismo" em sua definição contemporânea de forma subversiva, ou seja, como se o sujeito estivesse separado de tudo e de todos sendo assim conceitualizado como egoísmo. As “ideias” filosofias desenvolvidas pelo “Iluminismo” - entre outros o conceito que nenhum sujeito é “Propriedade de Alguém”; nem deus, nem o rei, nem mãe/pai - sendo o sujeito mesmo o criador de seus próprios valores através da emancipação - isso por si só já é uma revolução. Pertencer ao todo, está ligado ao outro não quer dizer que o outro seja meu proprietário, a individualidade do sujeito não despreza o pertencimento a outrem - o sujeito pertence a humanidade, a natureza, logo ele é indivisível. Porém ser indivisível quer dizer ser diferente do todo, o todo é uma constelação da diferenciação. Todo homem é individualista, o sujeito é homem, logo, o homem é individualista. 

Como o conceito foi subvertido de “individualismo” para “egoísmo” a qualificação do sujeito emancipado torna-se um paradoxo e uma aporia retórica que enseja numa filologia periférica. Egoísmo tem sua raiz à palavra Latina - “quaerere”: Ego significa “eu” mais o sufixo “ismo”, doutrina, sistema, teoria, tendência, corrente - é o amor exagerado aos próprios interesses a despeito dos de outrem. Na contemporaneidade o individualismo se não for qualificado com a definição de egoísmo é visto como uma espécie de estranhamento, pelo fato que ele é definido como uma categorização de adjetivo perdendo assim seu caractere próprio e legítimo dentro do contexto histórico e filológico. A essência do termo se esvai - assim como a aura se dissipa da estética autêntica.