No
Jardim do Éden “Deus” cria um casal “Adão e Eva”, logo em seguida, fruto desta
relação nasceu “Caim e Abel”. Caim dedica-se às coisas do campo enquanto Abel
cuida das ovelhas. Ambos querem apresentar algo ao “Criador” - simbolismo de
agradecimento por suas vidas. Caim leva o fruto da terra e Abel traz as partes
gordas das primeiras crias. Como o “Criador” não se impressiona com a beleza
das coisas que as mãos lhe apresentam, mas tem a prerrogativa de enxergar as
motivações por detrás delas, decidiu aceitar com alegria a oferta de Abel e
rejeitar a de Caim. Abel em sua individualidade pensa em agarrar a parte que
lhe é própria, enquanto Caim perde neste momento sua individualidade, pensa
somente em si mesmo, tendo como pressuposto seu egoísmo exacerbado.
Juste
un moment. Abel era individualista? E Caim era egoísta?
Um
sujeito que vive uma vida marota e liquida, ou seja, que lhe falta às certezas,
que não há mais uma garantia sobre nada – logo é chamado de individualista pela
característica de não ser propriedade de outrem, ou seja,
pertencente-autônomo; mas então o que será que é tomado ou considerado como um
ser individualista? A palavra deriva do Latim - “individuus”, tendo duas
significações: 1. Não pode separar; 2. Inseparável. Ou seja, tudo aquilo que
está contido no todo é uno tornando-se individual. Faz-se aqui um contraponto
entre a etimologia “individuus” com o "in - dividuus", ou seja,
"dividuus" - vem de "dividere" = separar; "in" -
significa o contrário: Não podendo ser separado.
A
palavra ganha o significado de "individualismo" em sua definição
contemporânea de forma subversiva, ou seja, como se o sujeito estivesse
separado de tudo e de todos sendo assim conceitualizado como egoísmo. As
“ideias” filosofias desenvolvidas pelo “Iluminismo” - entre outros o conceito
que nenhum sujeito é “Propriedade de Alguém”; nem deus, nem o rei, nem mãe/pai
- sendo o sujeito mesmo o criador de seus próprios valores através da
emancipação - isso por si só já é uma revolução. Pertencer ao todo, está ligado
ao outro não quer dizer que o outro seja meu proprietário, a individualidade do
sujeito não despreza o pertencimento a outrem - o sujeito pertence a
humanidade, a natureza, logo ele é indivisível. Porém ser indivisível quer
dizer ser diferente do todo, o todo é uma constelação da diferenciação. Todo
homem é individualista, o sujeito é homem, logo, o homem é
individualista.
Como
o conceito foi subvertido de “individualismo” para “egoísmo” a qualificação do
sujeito emancipado torna-se um paradoxo e uma aporia retórica que enseja numa
filologia periférica. Egoísmo tem sua raiz à palavra Latina - “quaerere”: Ego
significa “eu” mais o sufixo “ismo”, doutrina, sistema, teoria, tendência,
corrente - é o amor exagerado aos próprios interesses a despeito dos de outrem.
Na contemporaneidade o individualismo se não for qualificado com a definição de
egoísmo é visto como uma espécie de estranhamento, pelo fato que ele é definido
como uma categorização de adjetivo perdendo assim seu caractere próprio e
legítimo dentro do contexto histórico e filológico. A essência do termo se
esvai - assim como a aura se dissipa da estética autêntica.