INTRODUÇÃO:
Pensar
o mundo como algo separado, distante, não intrínseco ao ser é colocar-se
diametralmente em outro campo existencial, que perpassa uma alegoria gigantesca
entre o aparente e o existente. O dialogo aqui presente entre Eu, "Sartre e
Marx", engendra numa abordagem paradoxal entre a subjetividade-objetividade
(pensada a partir de Schopenhauer), e a liberdade gratuita sartriana e a
negação desta mesma liberdade a partir de Marx que coloca o ser como uma
consciência determinada pelo social-capital.
A
partir deste paradigma entre a saída das correntes existenciais e o
determinismo marxista, encontra-se um enorme problema sobre as possibilidades e
emaranhados que o acomete entre o assumir e o não assumir a responsabilidade onde
a qual não será possível fugir ou tentar desviar-se da mesma, pois o mundo é
esta imanência do aqui e agora.
No
primeiro parágrafo, teremos uma dialética entre “O mundo e suas”, que tentará
levantar questões imanentes e epistêmicas no que tange a existência humana e
seus pressupostos epistemológicos; assim como o segundo “Será que sou alguma coisa
ou sou o que fizeram de mim?”, vai tratar sobre a liberdade gratuita de Sartre
e o determinismo de Marx, aonde para ele o homem é produto do meio.
I
- INVESTIGAÇÃO:
O
“MUNDO” E SUAS...
"E
se um dia ou uma noite um demônio te seguisse em tua suprema solidão e te
dissesse: "Esta vida, tal como a vives atualmente, tal como a viveste, vai
ser necessário que a revivas mais uma vez e inúmeras vezes: e não haverá nela
nada de novo, pelo contrario. A menor dor e o menor prazer, o menor pensamento
e o menor suspiro o que há de infinitamente grande e de infinitamente pequeno
em tua vida retornar, e tudo retornará na mesma ordem - essa aranha também e
esse luar entre as árvores, e esse instante e eu mesmo! A eterna ampulheta da
vida será invertida sem cessar - e tu com ela, poeira das poeiras!". Não
te jogarias no chão, rangendo os dentes e amaldiçoando esse demônio que assim
falasse? Ou talvez já viveste um instante bastante prodigioso para lhe responder:
"Tu és um deus e nunca ouvi coisa tão divina!" Se este pensamento te
dominasse, tal como és, te transformaria talvez, mas te aniquilaria; a
pergunta: "Queres isso ainda uma vez e um número incalculável de
vezes?". Esta pergunta pesaria sobre todas as tuas ações com o peso mais
pesado! E então, como te seria necessário amar a vida e a ti mesmo para não
desejar mais outra coisa que essa suprema e eterna confirmação, esse eterno e
supremo selo! (NIETZSCHE, 2008, p. 239-230).
Nietzsche
remonta um paradoxo entre pensar em viver, deixar-se viver ou viver intensamente
o aqui e agora. O filosofo nos adverte sobre o que fazemos de nossas vidas
enquanto vividas, se somos vividos por ela ou se a aproveitamos a mesma em sua
plenitude e sua potencialidade onírica.
O
mundo são essas imanências, ou seja, o aqui e agora; que são sempre projeções, numa
equivalência feita por hiatos que produz essas mesmas projeções, que entre
emaranhados e possibilidades projetadas geram novas ações que tendem a uma
perspectiva resultante de novas imanências, tendo como hegemonia o alcance dos
princípios para uma tentativa de sair da obscuridade, dos muros, das barreiras
criadas pela consciência e desenvolver esses “desdobramentos”, que é o principio
de equivalência como poder desconstrutivo.
O
mundo como subjetividade-objetividade tende a uma peculiaridade em sua
organização; pois depende de fatores externos-internos-do-ser, que colocando-se
na posição central, ou seja, no epicentro do corpúsculo de uma sociedade
concreta, tendo sua realidade-como-existência-racional de um ser que
sente-imagina-percebe a tudo e a todos, numa equidistância de um vácuo
longínquo, tendo um antagonismo radical e que resiste ao processo sistemático,
em que o modelo apresentado pelo social, deixou-e-ou-deixa-de-ser-o-melhor,
aonde cabe ao expectador deslumbrar como um maestro da vida do outro e
contemplar essas mazelas.
Os hiatos para o novo é como um “arado agrícola”, aonde é aberto sulcos na
terra e projetado sementes e adubos para projeções futuras de ato-e-potência,
no que se percebe como um projetar-se do solo firme e real ao possível e
abstrato, tendo-se uma analogia entre a negação do não-ser, que foi o ser
depois de projetar-se, ou seja, laçar-se em uma dimensão caótica e obscura, em
uma atmosfera impactante-desconsertante que trás consigo
angustia-medo-desespero, do real não conhecido e agressivo, feroz, veloz que
espera em sua totalidade um ser em hiato, projeções, mas sua envoltura está
caracterizada pela imanência, entendida como “o aqui e agora”. Este instante é um
paradoxo de incertezas-inseguranças-rebeliões, para desdobrar-se em uma
possibilidade de ser-algo-que-quer-ou-que-se-projeta, como um telescópio lunar,
que a todos os ângulos em uma analítica geométrica não se retrai, mas que se
percebe, se abre, se projeta e se desdobra para uma categoria ainda não
conhecida que é este mundo ao qual ele vive-sonha-idealiza. Onde está este
mundo? Será ele mesmo este mundo? Quais suas possibilidades e seus
desdobramentos para tal?
II
- INTERPRETAÇÃO:
SERÁ
QUE SOU ALGUMA COISA OU SOU O QUE FIZERAM DE MIM?
“[...],
lembramos ao homem que não há outro legislador senão ele mesmo, e que é no
desamparo que ele decidirá por si mesmo; e porque mostramos que não é
voltando-se para si mesmo, mas sempre buscando fora de si um fim que consiste
nessa liberação, nesta realização particular, que o homem se realizará
precisamente como humano.” (SARTRE, 2010, p.44).
O
ser como protagonista de sua existência sente-se portador de uma categoria
modular de vida, aonde é percebida como senhor, construtor, magnânimo de uma
edificação existencial pragmática e delineada para uma atitude mitológica
edificada por um saber paradoxal engendrado em emaranhados de padrões sociais,
antropológicos, históricos e religiosos. Se esses modulares forem categoricamente
exemplos para um constructo imanente então o ser não é totalmente livre? Ou é
livre e através dos estímulos externos que prevalece?
Se
o homem esta em um ambiente que aparentemente não é propicio ao seu e ele
subentende que ali equivale a algo interiormente a uma motivação interior
individualizada, é analogamente pensar que “seu ser não estava prevalecendo
desta maneira por estimulo reprimido”; então a abrangência de sua decisão
parcial para a aquisição desta atitude não é tão surpreendente para o mesmo, que
a deliberação desta atitude não passa de uma liberação de sua própria
existência reprimida.
Bom
se o homem não é o seu ser construído a partir dele mesmo ou através de
modulares, exemplos e ao mesmo tempo tendo a possibilidade de desconstruir este
mesmo paradigma exemplificado pela sociedade, família etc., então ele pode ser
uma maquina construída ou reconstruída pela mesma cultura antropológica,
histórica, sociológica e filosófica.
O
determinismo do filosofo Karl Marx diz: “Não é a consciência dos homens que
determina o seu ser, mas, ao contrario, o seu ser social que determina a sua
consciência”. (MARX, 1977, p.23). Sartre nos adverte: “[...], todo homem que se
refugia por trás da desculpa de suas paixões, todo homem que inventa um
determinismo, é um homem de má-fé”. (SARTRE, 2010, p. 39). Se a consciência do
social determina a consciência do individual, o ser esta quase que totalmente
anulado, pois a sua existência é aniquilada a partir desta negação, como um ser
que não mais escolhe, decide por si mesmo, etc. “[...], não existe
determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. [...], o homem está
condenado a ser livre”. (SARTRE, 2010, p.24).
Visão
determinista:
Para
os deterministas este conceito é aparentemente gratuito, sem paradigmas e
redundâncias. O determinismo refere-se à ideia de que nada pode acontecer que
não tenha uma causa e à crença num sistema composto todo ele por relações
causais. Assim, trata-se de uma atitude que crê que o observador pode ser
omnisciente e prever resultados a partir do conhecimento de dados preexistentes
que assume como causas do que quer estudar.
“Na
Sociologia, a adoção de pontos de vista deterministas significaria aceitar que
o conhecimento das estruturas sociais atuais permitiria prever com toda a
exatidão os sistemas sociais do futuro. O determinismo não teve influência
notória na Sociologia, mas alguns sociólogos das primeiras gerações tomaram uma
atitude determinista relativamente ao pensamento de Karl Marx, quando assumiram
que a diferenciação social em classes e o conflito entre elas é originado por
fatores econômicos e que o sistema político resulta direta e exclusivamente
dessa diferenciação social.” http://www.infopedia.pt/determinismo-(sociologia).
Pode-se
definir o determinismo como sendo:
A
doutrina ou a teoria que afirma que todos os fenômenos ou acontecimentos estão
determinados por algum motivo. Isto implica entender a realidade como a
consequência direta de uma causa.
Pode-se
aplicar a ideia de determinismo em diversos âmbitos. Na biologia, a ideia de
determinismo refere-se à explicação da conduta dos organismos vivos segundo as
características dos seus genes. Isto significa que os seres humanos e os
animais atuam de acordo com a sua adaptação evolutiva e ao que dita a genética.
O
determinismo biológico, em última instância, supõe que as pessoas não são
livres, uma vez que se comportam segundo características inatas e hereditárias.
Por conseguinte, há indivíduos que teriam comportamentos reprováveis não
podendo ser alterados ainda que a sociedade se esforce pela sua readaptação.
No
contexto da religião, o determinismo afirma que as ações das pessoas são
determinadas pela vontade de Deus. As pessoas não podem atuar de acordo com o
livre arbítrio, pois estão sujeitos à predestinação.
A
nível econômico, por fim, o determinismo tem por base a crença que a sociedade
evolui segundo as condições econômicas. Qualquer estrutura ou sistema depende
da propriedade dos meios de produção e das características das forças
produtivas.
O
determinismo econômico pode apreciar-se no marxismo, que divide a estrutura
social numa superestrutura (formada pela política, pela ideologia, pela
legislação, etc.) e numa infraestrutura (as condições materiais e econômicas)
que a determina. http://conceito.de/determinismo#ixzz45fL4utfS.
Karl
Marx é interpretado como “determinista”. Essa assunção encontra justificativa
em dois aspectos de sua obra: (a) porque ele entende que a sociedade ruma ao
fim do capitalismo, fatalisticamente; e (b) porque ele visualiza o indivíduo
sendo determinado pela estrutura social. Para Marx, o todo teria primazia para
explicar a parte, indo de encontro ao individualismo metodológico, com uma
relação causal inversa, na qual a parte explica o todo.
Um
ponto crucial na crítica a Marx é a assunção de que o indivíduo é um reflexo de
sua condição material tão somente. Embora haja movimento, mudança no homem, é a
própria natureza que o empurra e o movimenta, autodeterminadamente, levando-o a
um objetivo final. A vida social seria, portanto, unideterminada em Marx. Apenas
o modo de produção e sua consequente luta de classes ditariam o arranjo social
e o comportamento do indivíduo.
Visão
liberalista:
O
determinismo ganhou muita força com o racionalismo do século XVII: nele o homem
já nascia com uma essência pré-estabelecida (inatismo e/ou essencialismo). Isso
significa que o homem realizaria uma ideia anterior a sua própria existência no
mundo, concretizando uma natureza concebida anteriormente por um intelecto
divino. O ser humano teria, assim, uma essência a cumprir: estipulada não por
ele, mas por um Ser maior.
A
grande querela do existencialismo contra o determinismo no que diz respeito à
liberdade humana é a afirmação de que “a existência precede a essência” (SARTRE,
2010, p.18); subvertendo, assim, a tradicional formulação de que “a essência
precede a existência”.
Para
Sartre, não há um Deus que produza uma essência humana. O homem não se
constitui como um objeto qualquer, apesar de estar determinado pelas mesmas
leis da física que os demais corpos. O homem esta em outro campo que é o da
consciência.
Na
obra “O Ser e o Nada”, Sartre define o “Ser” de “em-si” e o “Nada” de
“para-si”.
O
Ser é conceituado como em-si: “Que ele é, ele é o que ele é, mais nada. Ele é
pleno, total, perfeito, ilimitado, nada pode perturbá-lo, pois ele não tem a
menor consciência de si mesmo; ele é, pura e simplesmente.” (Curso de
filosofia, 2012, p. 234). “O ser se define pelo principio de identidade: ele é
o que é.” (Curso de filosofia, 2012, p. 235).
O
Nada é conceituado como para-si: “A consciência, ao contrario, não é idêntica
consigo mesma, toda busca de autoidentificação devolve-a imediatamente ao outro
que não ela mesma: para ser deve ser consciência de algo. A consciência só se
deixa definir pelo principio de contradição: ela é o que não é e não é o que
é.” (Curso de filosofia, 2102, p. 234).
A
consciência é uma constante recusa de ser objeto. Isso significa que
ela é recusa de ser essência, um constante preencher-se de conteúdo exterior a
ela (conteúdo que corresponde aos objetos com essências dadas – objetos que
Sartre chamará de seres em-si). A consciência não tem uma essência prévia,
sendo somente consciência de algo que está fora dela mesma. Compreende-se,
então, a afirmação sartreana de que “a existência precede a essência”: somente
na existência é que há essa possibilidade de encontrar objetos que são o
que são. Fora disso a consciência (do homem) nada é.
“O homem é o ser pelo qual o nada vem ao
mundo”
(O
ser e o nada, p.60, In: Curso de filosofia, 2012, p. 235).
E
em contrapartida Sartre critica Karl Marx em sua obra “Critica da razão
dialética”; aonde ele escreve:
“No
momento em que a pesquisa marxista assumir a dimensão humana (isto é, o projeto
existencial) como o fundamento do Saber antropológico, o existencialismo não
terá mais razão de ser: absorvido, excedido e conservado pelo movimento
totalizante da filosofia, ele cessará de ser uma pesquisa particular para
tornar-se o fundamento de toda pesquisa.” (Critica da razão dialética, p. 111,
In: Curso de filosofia, 2012, p. 241).
CONCLUSÃO:
Este
artigo tem como propósito fazer uma observação no que tange a tomada de decisão
quanto à própria existência do ser com a proposta nietzschiano, a liberdade gratuita
do individuo no modelo sartriano dentro de um antagonismo determinista de Karl
Marx. Para Sartre não há determinismo o ser é livre em sua plenitude como um
ser existente e todo homem que se refugia por trás de suas desculpas e suas
paixões é um homem de má-fé, pois o ser é responsável não somente por ele
mesmo, mas está responsabilidade abarca a todos, pois, ao escolher o homem ele
escolhe a si próprio e isto envolve todo um engajamento; para Marx isso se inverte,
pois, o ser não é livre onde a sua consciência para poder ter a opção de
decidir já está determinada pelo complexo estrutural construído pela
superestrutura e pela infraestrutura edificada em uma sociedade capitalista. Na
perspectiva de Nietzsche ele perguntaria se desejaríamos reviver nossa vida por
diversas vezes da forma como a vivemos ou como fomos vividos por ela...
Este
aporte antagônico levantou uma prospecção epistemológica e ontológica do ser
não como coisa, objeto de instituições ou de historicidade, mas como um ser
livre em sua plenitude ou se com um olhar marxista um ser não livre e aonde a
pergunta nietzscheana de viver ou ser vivido, levanta a contemporaneidade uma
reflexão delicada da existência de cada um.
REFERÊNCIAS:
MARX.
K. “Prefácio de Contribuição à crítica da economia política”. São Paulo,
Martins Fontes, 1977.
NIETZSCHE.
F. A Gaia Ciência. São Paulo, Escala, 2008.
SARTRE.
J. P. O existencialismo é um humanismo. São Paulo, Vozes, 2010.
REZENDE.
A. Curso de filosofia. Rio de Janeiro, Zahar, 2012.
CONSULTA:
REALI.
G. História da filosofia. vol. III, São Paulo: Paulus 2007, 8ª edição.